Senhor-nossa-justiça

 

Achei interessante essa expressão, que consta na tradução italiana da primeira leitura para este 1º Domingo do Advento do Ano C: Senhor-nossa-justiça. Assim, as três palavras juntinhas mesmo. Às vezes os conceitos em filosofia são escritos dessa forma também. O que isso significa? Que a justiça que se anuncia neste novo ano litúrgico não é a nossa forma humana de entender (e fazer) justiça, mas aquela que está no mais íntimo, no coração do nosso Deus. 

 

Mas então, que justiça é essa? O evangelho ajuda a responder, retomando a figura do Filho do Homem. Esse é o Juiz constituído em poder e autoridade pelo próprio Deus, para estabelecer o julgamento da história do mundo, em sentido universal, e da história de cada ser humano, em sentido pessoal. Os últimos domingos já apresentavam o Filho do Homem e o cenário de sua atividade (se quiser rever, retome os textos: Dn 7,13-14; 12,1-3; Ap 1,5-8; Mc 13,24-32; Jo 18,33-37). Sem dúvida nenhuma, reconhecemos que esse poder pertence só e somente ao Senhor Jesus!

 

Conhecendo bem o coração do Bom Pastor, sabemos que o critério do Juízo de Deus não é outro senão a misericórdia: “Vinde, benditos de meu Pai, recebei por herança o Reino... cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes... todas as vezes que o deixastes de fazer a um desses mais pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer” (cf. Mt 25,31-46). O grande místico São João da Cruz, comentando essa passagem do evangelho dizia: “No entardecer da vida seremos julgados pelo amor”. De fato, é a vivência concreta da misericórdia que expressa a capacidade de acolhida da revelação da presença amorosa do Pai.

 

Nesse horizonte, a vigilância e a oração são atitudes a cultivar, conforme o evangelho de hoje, para que o nosso amor sincero seja sustento diante das dificuldades da vida e dos riscos do esfriamento da fé. Atentos e fiéis ao Senhor, a nossa vida se transforma e pode se tornar reflexo da Palavra de Deus acolhida de coração. Por isso a insistência de São Paulo com a comunidade dos tessalonicenses na segunda leitura deste domingo: o amor abundante gera e faz progredir na santidade!

 

A partir disso, podemos dizer: a santidade é o coração da moral cristã. Em outras palavras: a nossa vida empenhada em acolher e transmitir o amor de Deus em favor dos irmãos é sinal evidente e potente da sinceridade e da verdade da nossa fé! Penso que seja esse um dos grandes desafios da vida cristã: a partir da fé conjugar uma profunda vida interior (oração, leitura e escuta da Bíblia, vida sacramental, práticas de devoção) com uma coerente expressão interior (comportamento, linguagem, opções políticas, compromisso social). 

 

Que o caminho deste ano litúrgico que se inicia nos ajude e estimule a crescer e amadurecer na inteireza da nossa fé e do nosso compromisso cristão. Bom Advento!

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